Os quatro períodos do Movimento Negro e suas conquistas
30/06/2021
Engajamento Político, Negritude Pública.

Os quatro períodos do Movimento Negro e suas conquistas

Sendo o movimento todo e qualquer ato ou efeito de mover(-se), necessário se faz pensar em todos aqueles que preferiam a morte à escravidão. considerando que o povo negro sempre esteve em movimento, o Movimento Negro. Mas foi em 1888 que o negro deixou de ser propriedade do senhor, passando a ser responsabilidade do Estado. E o que esse fez por essa população?

Versar sobre a conquista do momento negro de forma cronológica torna-se extremamente complexo, pois devemos analisar e levar em consideração todos os acontecimentos históricos desde África.

Em honra aos antepassados é necessário um ponto de partida, logo o reconhecimento do Movimento Negro como ator político, segundo Gomes, é um movimento que constrói sistematiza e articula saberes produzidos pela população Negra ao longo da história social, política, cultural e educacional Brasileiro.

Versar sobre a conquista do momento negro de forma cronológica torna-se extremamente complexo, pois devemos analisar e levar em consideração todos os acontecimentos históricos desde África.

Em honra aos antepassados é necessário um ponto de partida, logo o reconhecimento do Movimento Negro como ator político, segundo Gomes, é um movimento que constrói sistematiza e articula saberes produzidos pela população Negra ao longo da história social, política, cultural e educacional Brasileiro.

O Movimento Negro é composto por diversos personagens, que se utilizaram de diversas estratégias de conquistas. Petrônio Domingues em sua proposição, traça um panorama histórico da atuação do Movimento Negro em três momentos:


O primeiro período do Movimento Negro

No primeiro, período o Movimento Negro tem um discurso moderado, com estratégia de cultura da inclusão assimilisicionista, com princípios ideológicos e posições politicas voltadas para o nacionalismo e defesa das forças políticas de direita. Nesse período, o negro estava sem direito a terra, sem ofício, deixados à própria sorte, sem preparo moral e educacional, ocasionando a marginalização da população.

O movimento dessa época caracteriza pelo foco na alfabetização, criação de grupos negro com destaque para o Centro Cívico de Palmares de 1926 e agremiações baseadas na cultura da assimilação de clubes existentes a época, bem como a circulação de informações baseada na estruturação de redes. Podemos destacar os Jornais “A Pátria” de 1899, “O Combate em 1912 e em 1924 o “Clarim da Alvorada”. Neste período temos registros da existência de pelo menos 31 artigos circulando por São Paulo.

O destaque desse período corre em 1931, com a fundação da Frente Negra Brasileira com representações no âmbito estadual foi capaz de atrair milhares negros, organizados o grupo mantinha escolas, grupos de teatros, formação política e de ofícios e um jornal o “A Voz da Raca” sendo extinta em 1937 com a instauração do Estado Novo.

Ao longo da construção do Estado Brasileiro tivemos mecanismos que produziram desigualdades sociais, sendo a ideia de raça como eixo mobilizador das relações sociais, refletindo até hoje a cor da inclusão. Pois as desigualdades não são naturais e sim uma produção histórica, sendo uma das atribuições do Movimento Negro a luta dentro de um processo de ressocialização.


O segundo período do Movimento Negro

Já o segundo período, datado de 1945 a 1964, mantem o discurso moderador, com estratégia de cultura a integração, versando que a solução para o racismo se dará pela via educacional e cultural, focando na elevação da estima do negro eliminando do complexo de inferioridade e a reeducação racial do branco.

Utilizando-se de métodos como a imprensa, eventos acadêmicos, movimentos vanguardistas artísticos. Denunciando o mito da democracia racial, tendo como destaque o teatro experimental do negro, a União dos Homens de Cor, sendo José Bernardo da Silva e Abdias do Nascimento suas principais lideranças.


O terceiro período do Movimento Negro

Como movimento social, as sementes plantadas no primeiro e segundo período floresceram no terceiro período, sendo este um período contundente com estratégias diferenciadas com a busca pela igualdade na diferença, com conjuntura internacional voltada para o afrocentrismo, bem como a influência dos movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos.

No campo normativo, temos em 1968 a Lei do Boi, em 1988 nasce nossa atual Constituição e em 2001, temos a Conferência de Durban. Também há a adoção oficial do termo negro, retirando pessoa de cor e posteriormente a inclusão do termo afrodescendente.

O movimento desse período vê a escravidão e o sistema capitalista como a marginalização do negro. Suas lideranças frisam que o caminho para diminuição do racismo se dará pela via política (posicionamento levantado em 1931). Como método de luta as manifestações públicas, há a formação de comitê de base, formação de movimento nacional. Com destaque para o Movimento Negro Unificado, o bloco afro Ilê Aiyê e a reorganização das entidades negras como o I Encontro Nacional de Mulheres Negras na cidade de Valença-RJ.

Houve também a extinção da comemoração do 13 de maio e a explosão movimento Black Soul. A imprensa negra retorna, com destaque aos jornais SINBA (1977), Nzinga (1984) e Revista Ébano de 1986. Tem como princípio ideológico posições políticas firmadas no intencionalismo e defesa das forças políticas de esquerda entre 1970 e 1980.

Leia também: 13 de Maio: falsa abolição, desigualdade, e o trabalho escravo contemporâneo no Brasil

Discute o mito da democracia racial como o programa mínimo do Movimento Negro unificado, contra a discriminação racial; temos a unidade do movimento que objetiva a implantação de uma verdadeira democracia social de acordo com o discurso dos poderes.
Trazem a valorização dos símbolos associados à cultura negra, trazendo um discurso contra a mestiçagem. Há ampliação do espaço de discussão da questão racial na Câmara dos Deputados.

Os principais acontecimentos desse período são o reconhecimento do racismo como crime, constituição das cotas, inserção da disciplina da História da África, demarcação dos Quilombos e comemoração de 20 de novembro. Destacamos os nomes de Lélia Gonzalez e Hamilton Cardoso. Com a luta desses homens e mulheres que as gerações futuras desfrutam dos avanços alcançados e continuam na busca por equidade de gênero e raça.


O quarto e último período

O quarto período se dá de 2010 em diante, com discursos contundentes equitativos, com princípios ideológicos baseados no pan-africacionista, com abordagens interseccionais de enfrentamento a dispensação sistemática das questões raciais, lutando por agendas e legitimação de lideranças negras em todos os segmentos.

Apresentando um processo de organização definido com mulheres e homens negros, jovens negros, pessoas brancas, essa multiplicidade de atores traz a responsabilidade da busca pelo reconhecimento dessa diversidade em conjunto com a autoidentificação. Nomes de destaque desse período são em sua maioria mulheres como Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo e Nilma Lino Gomes.

O Movimento Negro é necessário e continuo, ao passo que a equidade não se atinge com a existência de um, mas sim com a multiplicidade, aperfeiçoando cada vez mais a democracia.

Podcast Coisa Pública: O papel do negro no setor público

Camila Guimarães é Diretora Técnica de Finanças e Suprimentos no Governo do Estado de São Paulo. É da turma 7 do Master em Liderança em Gestão Pública, a pós-graduação do CLP, e faz parte da Rede Negritude Pública.

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