26/02/2019
Notícias.

Boas práticas da educação pública de Singapura para o Brasil

 

André Líder Lopes MLG

 

No final do mês de janeiro, a Fundação Lemann realizou uma caravana para Singapura, país referência em políticas docentes e número 1 no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Durante a viagem, educadores brasileiros conheceram as instituições de formação de professores, escolas públicas, startups e órgãos do governo. O líder do Master em Liderança e Gestão Pública (MLG), André Lopes, foi um dos integrantes do grupo e nos conta um pouco sobre o que aprendeu por lá. Confira:

 

Carla Jucá, que também é líder MLG, foi outra integrante da caravana para Singapura. Também conversamos com ela. Leia aqui!

De onde surgiu a ideia da viagem?

A ideia foi da educadora da Talentos da Educação da Lemann, Carolina Campos. Singapura já está em primeiro lugar no Pisa há alguns anos e a vontade de conhecer o sistema deles surgiu para vermos de perto o que é que eles têm e pensar no que a gente pode replicar aqui no Brasil. A partir disso a fundação abriu um edital para educadores da rede. Eu me inscrevi e fui selecionado!

Como foi a agenda em Singapura?

Nós fomos em um grupo de 22 pessoas, entre educadores e gestores da Fundação. Visitamos duas escolas e a universidade. Como o país é pequeno, existe apenas uma universidade de educação, a NIE (National Institute of Education), que forma todos os professores que trabalham na rede. Com certeza isso contribui para que os professores estejam alinhados em um projeto de educação.

O que mais te chamou a atenção por lá?

O que eles chamam de “ecossistema de educação”, com um alinhamento perfeito. Eles têm uma clareza grande do que querem desenvolver de competências e habilidades nos alunos. É impressionante.

E como eles chegaram nesse ecossistema?

Singapura ficou independente da Inglaterra na década de 60 um país pequeno, pobre, com três etnias diferentes, sem recursos naturais. Eles entenderam que o que tinham eram pessoas e que precisavam investir nelas. Então eles fizeram um movimento para ver o que o mercado de trabalho estava precisando e, a partir dessas informações, começaram a desenvolver os alunos. Além disso, como são três etnias, cada uma com sua língua, eles instituíram o inglês como língua comum. Depois, estabeleceram a meritocracia como o principal valor de crescimento social. O professor tem papel fundamental nisso, não só formando para o mercado de trabalho, mas difundindo esses valores nacionais, voltados à comunidade, cidadania e nação.

Como é feita a formação desses professores?

Esse ecossistema parte do Ministério da Educação, que é o responsável por contratar os professores. Só os 30% melhores estudantes podem ser docentes e passam por um processo seletivo para entrar no NIE. Quando ingressam, já recebem salário. São quatro anos com três principais focos: desenvolver a teoria, aprender como ensinar e adquirir experiência prática. Depois são 22 semanas de estágio em sala de aula, com objetivos claros e mentoria de professores mais experientes para ajudar os aspirantes. Ao fim da universidade, esses profissionais precisam fazer uma prova e, quem não é aprovado, precisa devolver todo o dinheiro investido nele ao longo desses anos de formação. Claro que há segundas chances, mas é preciso passar nessa prova para começar a dar aula.

E eles já saem empregados?

 

Não existe professor desempregado. O Ministério da Educação calcula a demanda de professores necessários para selecionar o número de docentes que vão assumir os cargos. Os primeiros três meses são de estágio probatório. Em seguida, eles vão para a escola nacional de formação continuada de professores, que é a Academy for Teachers. É um ecossistema.

Mas Singapura é um país muito menor que o Brasil…

Com certeza, não dá nem para comparar. Mas o alinhamento é uma coisa possível de aplicar aqui. O governo federal, os estados e os municípios poderiam conversar mais. Todo aluno de escola pública começa na educação municipal, depois parte para escolas do estado. Os currículos conversam? Em muitos municípios existe, inclusive, um trauma de passagem porque a escola municipal é bem cuidada e a estadual nem tanto. Então, esse maior alinhamento é necessário e deveria partir do governo federal, que é quem tem maior arrecadação. Acho que a Base Nacional Curricular pode ser um primeiro passo nesse sentido. Outra ação poderia ser apoiar uma escola de formação de professores. Precisamos de mais proximidade. Esse é um aprendizado importante.

Banner Master em Liderança e Gestão Pública - MLG

Outro ponto seria a valorização do professor?

Exato. Valorizar mais os professores no Brasil é fundamental. O salário de um professor em Singapura é compatível com o de um advogado ou engenheiro porque se entende que é um profissional tão importante quanto. Em Singapura os melhores alunos vão ser professores. Aqui a gente precisa pensar em como tornar essa carreira mais atrativa e valorizar quem faz um bom trabalho. Lá eles falam muito que a escola vai até onde os professores vão. Como formar alunos brilhantes se os seus professores não são brilhantes?

Estamos muito longe?

Acredito que temos um caminho bastante comprido, sem dúvida, mas há exemplos incríveis. Quando eu falo do alinhamento, o Ceará é um exemplo impressionante, com muita aproximação entre os estados e os municípios. No Distrito Federal há locais em que os professores ganham super bem. É difícil falar que o Brasil inteiro está mal. Há locais bastante desenvolvidos e, de modo geral, um caminho a percorrer em vários outros lugares. É importante lembrar que Singapura também tem problemas, não é tudo perfeito, é um sistema que acaba colocando muita pressão nos alunos. As autoridades já notaram isso e estão pensando o que podem fazer nesse sentido.

Como essa experiência impactou na sua carreira?

Aumentando o meu repertório. Conhecer uma realidade tão diferente, com um sistema educacional com resultados impressionantes, com certeza vai influenciar nas minhas escolhas de carreira. Acredito que, para além do currículo, a escola tem que ser também um espaço de acolhimento, para falar das nossas inseguranças e frustrações. Quando a gente compartilha, se conecta com as pessoas e um ajuda o outro.

 

André Lopes é graduado em Administração e História e pós-graduado no Master em Liderança e Gestão Pública (MLG), do CLP. Ele tem experiência como professor no Ensino Médio no estado de São Paulo, com passagem pela fundação Casa. Atualmente cursa pós-graduação em Impacto Social, no Instituto Amani.

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