PL dos Supersalários pode poupar R$ 3,8 bi dos cofres públicos
por Inteligência TécnicaClique para acessar ACESSAR NOTA TÉCNICA
Ler maisA segunda onda da pandemia atacou de maneira ainda mais contundente o Brasil, fazendo com que novas medidas de isolamento social fossem necessárias, enquanto ainda não há vacina para a maioria da população. No entanto, o Auxílio Emergencial teve seu fim no final de 2020, fazendo com que grande parte da população se deparasse com situação de grande vulnerabilidade social. As estimativas são que a pobreza teria aumentado de 25% em 2019 para em torno de 30% no início do ano, enquanto a pobreza extrema foi de cerca de 7% para 10%.
No entanto, o Auxílio Emergencial, ainda que essencial, teve um elevado custo fiscal, em torno de R$ 40 bilhões mensais na sua primeira fase e R$ 20 bilhões no fim. Tais valores contrastam com o orçamento anual do Bolsa Família de cerca de R$ 35 bilhões. Desse modo, uma extensão do programa pode se fazer necessária, mas em moldes mais sustentáveis para as contas públicas, e com previsão de compensação do seu gasto ao longo dos próximos anos.
O novo modelo proposto introduz dois tipos de benefícios: (i) de R$ 50 para cada membro de famílias beneficiárias do Bolsa Família e (ii) de R$ 100 para os demais beneficiários do Auxílio Emergencial em 2020 (com mães solteiras podendo dobrar o benefício). O custo mensal de tal extensão, como mostra a tabela abaixo, seria de R$ 8 bilhões, uma redução de quase 65% em relação à última fase do programa.
Tabela 1: Desenho do Auxílio Emergencial por modelo (valores mensais)
Beneficiários do PBF | Valor médio | Total (R$ bi) | Outros cadastrados | Valor Médio | Total (R$ bi) | Total Geral (R$ bi) | ||
Primeiro modelo | 19 mi | R$ 660 | 12,6 | 49 mi | R$ 750 | 34,1 | 46,7 | |
Segundo modelo | 19 mi | R$ 265 | 5,0 | 49 mi | R$ 375 | 17,1 | 22,1 | |
Modelo proposto | 46 mi | R$ 50 | 2,3 | 49 mi | R$ 125 | 5,7 | 8,0 |
Fonte: Elaboração própria com dados do Ministério da Cidadania
Tal valor, fortemente menor do que os anteriores, permite um maior cardápio de diferentes períodos do programa. Caso o valor integral do modelo seja aplicado por dois meses, e metade dele por um mês adicional, teríamos um gasto adicional ao orçamento de 2021 no total de R$ 20 bilhões.
A extensão do Auxílio Emergencial com o modelo proposto teria a capacidade de tirar, nesse início de ano, cerca de 2,7 milhões de brasileiros da pobreza e 2,5 milhões da pobreza extrema, como mostra a Tabela abaixo. Desse modo, com um valor reduzido do gasto, tem-se ainda um impacto significativo do programa para evitar um aumento ainda mais dramático da vulnerabilidade social devido à pandemia.
Tabela 2: Projeção da população abaixo da linha da pobreza (R$ 455 mensais) e pobreza extrema (R$ 157 mensais) no início de 2021
Pobreza | Pobreza Extrema | |
Sem novo AE | 29,4% | 9,6% |
Com novo AE | 28,1% | 8,4% |
Milhões saindo da pobreza | 2,7 | 2,5 |
Fonte: Elaboração própria com estimativas baseadas em dados da PNAD Contínua e PNAD Covid-19.
Compensação do gasto: o caso da PEC Emergencial, PEC do Pacto Federativo e dos Fundos – relatório do Senador Márcio Bittar
O gasto com a extensão do novo Auxílio Emergencial, como visto, pode ser de pelo menos R$ 8 bilhões, se adotado o modelo proposto, a depender do número de meses para os quais ele for implementado. Como será argumentado abaixo, é possível compensar tais despesas com a aprovação da PEC Emergencial, segundo o texto do relatório de Márcio Bittar.
A PEC Emergencial, em seu texto original, previa o acionamento de gatilhos de redução de gasto público quando a União descumprisse a regra de ouro (endividamento maior do que os gastos de capital), e quando Estados e Municípios tivesse suas despesas correntes em nível 95% maior do que de suas receitas correntes. Dois gatilhos seriam as principais formas de economia: de vedações de reajustes salariais e novos concursos, e de de redução de jornada em até 25%, com consequente queda dos salários totais.
Para Estados e Municípios, segundo estimativas de Nota Técnica anterior, o primeiro gatilho teria um impacto de cerca de R$ 3 bilhões no primeiro ano, enquanto o segundo teria de R$ 12 bilhões no mesmo período (admitindo uma redução média de 15% dos salários). Em 10 anos, a economia de cada gatilho seria em torno de R$ 35 bilhões e R$ 75 bilhões, respectivamente (valores a preços do final de 2020).
Já para a União, o gasto com vencimentos e vantagens fixas do pessoal civil foi de R$ 63 bilhões . Com isso, admitindo nenhum reajuste real no final de 2021, os dois gatilhos – vedação de reajustes e redução de jornada – teriam um impacto de R$ 3,2 bilhões e R$ 9,5 bilhões, respectivamente. Considerando o não reajuste real dos gastos com militares, haveria ainda uma economia adicional de cerca de R$ 300 milhões no primeiro ano. A economia total seria, portanto, de cerca de R$ 13 bilhões – próximo ao estimado pelo próprio Governo Federal.
Houve três principais mudanças do texto original no relatório do Senador Márcio Bittar. O primeiro foi a mudança do acionamento de gatilhos para a União, trocando o descumprimento da regra de ouro como critério para quando a proporção da despesa obrigatória primária em relação à despesa primária total for superior a 95%, no âmbito das despesas do teto.
Tal mudança traz algumas incertezas em relação à aplicação dos gatilhos para a União. Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, a proporção de gastos obrigatórios da União está em 93,4% do total – não apenas as sujeitas ao teto. Considerando apenas estas últimas, o percentual vai a 92,3%. No entanto, o texto não especifica o que será considerado gasto obrigatório, e não há uma definição prévia oficial. Emendas Parlamentares, por exemplo, podem acabar sendo categorizadas como tal, por serem impositivas, o que acabaria por elevar tal percentual. No entanto, dificilmente, por tal regra, a União entraria em emergência fiscal mais de três vezes até 2030.
Adicionalmente, no novo texto da PEC Emergencial, está também excluído o gatilho referente à redução de jornada de trabalho/remuneração dos funcionários públicos, devido a seu forte custo político. Desse modo, a economia anual média em relação ao gasto com pessoal se reduziria para cerca de R$ 3,5 bilhões no Governo Federal, e outros R$ 3,5 bi nos Estados e Municípios.
Há, ainda, outra mudança na PEC Emergencial, que, por sua vez, terá um impacto acumulado significativo. Anteriormente, havia a vedação de criação, ampliação ou renovação de benefícios tributários, caso a renúncia fiscal atribuídas a estes superasse os 2% do PIB a partir de 2026 –atualmente, tal nível se encontra próximo de 4% do PIB. No entanto, no novo texto, o Governo Federal é obrigado a publicar um plano de longo prazo de redução dos gastos tributários seis meses a partir da promulgação da PEC, com envio de projeto ao Congresso detalhando os cortes nos benefícios tributários, de modo que se reduzam para 2% do PIB em 2029 – uma economia de mais de R$ 100 bilhões em renúncia fiscal evitada, caso tal medida seja incluída no texto final.
Finalmente, o texto do Senador Márcio Bittar também incorporou, pontos que estavam previstos na PEC do Pacto Federativo e na PEC dos Fundos Públicos. Esta primeira busca mudar as relações da União com Estados e Municípios, tendo como principal alteração a reorganização na gestão orçamentária dos entes subnacionais, dando mais liberdade para o contingenciamento de recursos, incluindo o polêmico fim dos mínimos orçamentários da Saúde e Educação que os Estados e Municípios são obrigados a cumprir. Ao mesmo tempo, também são vedados alguns tipos de socorros do Governo Federal aos entes a partir de 2026, de concessão de garantias da União para operações de crédito dos Estados e Municípios (com exceção de operações com organismos internacionais, como o Banco Mundial) e a mudanças nas condições contratuais da dívida de Estados e Municípios com a União.
Tais medidas vedadas são regularmente utilizadas pelos governos subnacionais em fragilidade fiscal para partilhar os custos de suas dificuldades fiscais com o Governo Federal. Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), de 2016 a 2019, as garantias honradas pela União em operações de crédito inadimplidas pelos estados chegaram a um valor próximo de R$ 20 bilhões de reais. Infelizmente, alguns estados, além de não honrarem os compromissos advindos dessas operações de crédito, ainda conseguem, via STF por exemplo, que a União não possa executar as contra garantias junto ao estado inadimplente.
Desse modo, a PEC oferece instrumentos e receitas para governadores e prefeitos terem melhores condições de buscar o equilíbrio fiscal. Por outro lado, a partir de 2026, ela proíbe mecanismos usados normalmente por estados e municípios para socializar o ajuste fiscal com a União. Seu impacto, ainda que indireto e de mais longo prazo, pode se tornar significativo para a normalização das relações fiscais entres a União e os entes subnacionais.
A PEC dos Fundos Públicos, que pretende extinguir os fundos infraconstitucionais, tinha como previsão liberar até R$ 220 bilhões para amortizar a dívida pública. O impacto considerando todo orçamento é nulo, por apenas realocar recursos já existentes no setor público, mas, com a permissão de outros usos, haverá mais espaço para que governos possam fazer melhor gestão de suas contas públicas. No que foi incorporado à PEC Emergencial, destaca-se a realocação de 28% da receita do PIS/PASEP, que era encaminhada diretamente ao BNDES, para o Tesouro Nacional. Segundo os dados do Governo Federal, ambas contribuições proveram uma receita total de R$ 63 bilhões em 2019 – de modo que tal mudança realoca para o orçamento do Governo cerca de R$ 18 bilhões, ainda que isso não possa ser considerado diretamente um ganho fiscal.
Proposta Novo Modelo AE > 95 milhões de beneficiados, frente a 68 mi anteriormente (40% maior população beneficiada).
Valor médio R$ 50 para cada membro de famílias beneficiárias do PFB e R$ 100 para os demais beneficiários do AE em 2020 (podendo dobrar o benefício no caso de mães solteiras).
Custo > R$ 8 bilhões mensais (82,8% e 64% mais econômico que os dois modelos adotados em 2020)
Resultados > tirar 2,7 milhões da linha pobreza e 2,5 milhões da pobreza extrema.
De onde vem os recursos PEC emergencial – No texto enviado pelo Senador Márcio Bittar, a economia média do setor público (União, Estados e Municípios) é capaz de compensar R$ 7 bilhões em média por ano em que há a aplicação dos gatilhos, equivalente a quase um mês do Auxílio Emergencial, apenas com o gatilho das vedações.
Outros impactos beneficiais às contas públicas > Texto do Senador Márcio Bittar também incorpora PEC do Pacto Federativo – que dá mais liberdade para entes subnacionais contingenciarem recursos e veda alguns tipos de operações de crédito e socorros do Governo Federal a partir de 2026 – e PEC dos Fundos Públicos, liberando cerca de R$ 18 bilhões da arrecadação do PIS/PASEP hoje vinculados ao BNDES.
[1] Dos quais R$ 42 bilhões são gastos com servidores e R$ 21 bilhões com cargos comissionados.
Fontes:
Inteligência Técnica CLP
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